Samba Paulista
Eu vou mostrar, eu vou mostrar que o povo paulista também sabe sambar,
Eu sou paulista, gosto de sambar, a Barra Funda também tem gente bamba, somos paulistas e sambamos pra cachorro, pra ser sambista não precisa ser do morro.
Trecho de “Eu vou mostrar”, de Geraldo Filme
Há diferentes tipos de samba ao longo da costa brasileira, dependendo dos grupos étnicos de escravos que para cá foram trazidos e da natureza das tradições locais que aqui encontram. A maioria proveniente da região de Angola/Congo. O samba começou a manisfestar-se na Bahia, e veio se espalhando pelo Brasil junto à diáspora africana.
O samba da então capital federal, Rio de Janeiro, deu vida e identidade para o samba no Brasil; atendeu aos anseios políticos das primeiras décadas, representando os ideais nacionalistas; correspondeu aos interesses econômicos, pois se tornara um produto rentável e ainda ia ao encontro de uma elite que já havia sido seduzida pelo samba. No entanto, a massificação gerada pelo rádio, televisão e a indústria fonográfica, impôs ao território nacional o modelo de samba e posteriormente das escolas de samba do Rio de Janeiro, obscurecendo as diversas facetas com que o samba se manifesta no país, inclusive em São Paulo, cidade que havia sido escolhida no plano nacional como a locomotiva econômica, ligada ao progresso, que não combinava com os batuques feitos por negros, assim como não combinava a imagem do sambista, o malandro, com aquela que seria conhecida como capital do trabalho.
Resolução Registro Samba Paulista
O dossiê
O sociólogo Mário Augusto Medeiros da Silva elaborou um riquíssimo dossiê sobre o samba paulista. Nele, demonstra que a história social do samba paulista é discutida e documentada desde final do século XIX por diferentes autores que os relacionam ao grupo social negro e às camadas populares como forma de interação entre o sagrado e o profano, o lazer e a obrigação, tendo se tornado clássica sua denominação, a partir de 1937, como Samba Rural Paulista, com o artigo de Mário de Andrade (ver em bibliografia). Além do panorama social e histórico, o texto delimita o tema, localiza seus agentes e acompanha a expansão do rural ao urbano do samba paulista, suas formas de resistência e transformação e conclui ser necessário definir melhor, dentro do complexo cultural do samba brasileiro, ou seja, o lugar ocupado pela forma do Samba de Bumbo, como exemplar distintivo e específico de sua existência em São Paulo. Trata-se da manifestação que aqui denominamos genericamente de Samba Paulista, bem imaterial universal ora registrado.
Atualidade
Encontramos os seguintes grupos em atividade (2017):Samba de Lenço “Mestre Antônio Carlos Ferraz” (Piracicaba), Samba de Roda de Pirapora (Pirapora de Bom Jesus), Samba de Roda Dona Aurora (Vinhedo), Vovô da Serra do Japi (Santana do Parnaíba), Samba de Bumbo de Cururuquara (Santana do Parnaíba), Filhos da Quadra (Quadra), Grito da Noite (Santana do Parnaíba), Urucungos, Puítas e Quijengues (Campinas), Batuque de Umbigada (Piracicaba, Tietê e Capivari), 14 Sambas (Piracicaba), Samba Lenço (Mauá).
Nos últimos anos, o Samba Paulista, sob as diversas denominações acima citadas, tem sido alvo de estudos e seus grupos têm se organizado e realizado diversas ações de intercâmbio. Citamos entre elas os ciclos de palestras e debates realizados no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, em 2014 e 2015, cujos áudios constam da bibliografia (em audiografia); o ciclo de debates, apresentações artísticas e oficina de confecção de bumbos, de roupas e de projetos culturais realizados em 2017, no Sesc Piracicaba, intitulado Festa do Samba Rural Paulista. O evento contou com a última participação da sambista Dona Esther, falecida alguns dias depois da festa, matriarca do Samba de Pirapora.
Os organizadores do encontro, da Diadorim Cultura Popular, agraciados com o ProAC em 2017 e apresentaram o resultado de suas ações no XIIIEnecult, (Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura). O evento gerou um documentário chamado Continuar Festejando – Samba Rural Paulista e traz um panorama do samba paulista extremamente atual, onde figuram todos os grupos que se consideram tradicionais na manifestação do Samba de Bumbo, ou Samba Rural Paulista, e suas variações: Samba de Roda, Samba de Lenço e Samba Caipira – além de representantes do Jongo e do Batuque de Umbigada.
A pesquisa e a coleta dos materiais sobre o Samba Paulista foram efetuadas pela pesquisadora e mestre em musicologia Flávia Prando.
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Samba paulista em fotos
Veja a galeria de imagem dos grupos que representam esse patrimônio imaterial